Black Country, New Road- For The First Time

Artista: Black Country, New Road
Álbum: For The First Time
Gravadora: Ninja Tune
Lançamento: Fevereiro/2021

Quando Black Country, New Road apareceu com “Sunglasses” viralizando nas playlists do Spotify lá no ano de 2019, a banda experimental de Cambridge que se relocou pra Londres, já estava fazendo sucesso com a energia e catarse de seus shows. O mega grupo tem 7 integrantes (Isaac Wood, Tyler Hyde, Lewis Evans, Georgia Ellery, May Kershaw, Charlie Wayne, Luke Mark) e incluem instrumentos como saxofone e violino que conversam magicamente com o resto da banda criando instrumentais não lineares que te levam à uma viagem na imaginação, complementadas pelas letras e narrativas do vocalista Isaac Wood.

A banda sempre foi muito críptica, desde o nome que menciona parte da Inglaterra (Black Country é uma parte de Midlands cujas fábricas na revolução industrial eram movidas à carvão-sujeira do carvão = black country ) até o mistério nas redes sociais cujas fotos sempre são tiradas de um banco de fotos para a publicidade ao invés dos próprios membros, que só deram as caras oficialmente no começo deste ano. Com somente dois singles “Sunglasses” e “Athen’s, France” conhecido do público, a banda conseguiu uma fã-base fiel, instigada pelas referências pop nas letras e no instrumental vivo. Com o álbum terminado semana antes do lockdown inglês, a banda oferece seis canções intensas e diversas produzidas pelo produtor Andy Savours. Segue então nossa resenha faixa a faixa do álbum:

1 Instrumental // *instrumental*

A canção “Instrumental” abre o álbum e foi feita no mesmo dia de “Opus” que fecha o álbum, além de dar uma ideia de que For The First Time é uma narrativa de começo, meio e fim. Com íntimas percussões e uma linha de baixo no começo da canção, a canção ganha pouco a pouco novos elementos, teclados, guitarras, saxofone, relembrando até em momentos os brasileiros do Móveis Coloniais de Acaju, no primeiro álbum.

2 Athen’s, France// “She flies to Paris, France/I come down in her childhood bed
And write the words I’ll one day wish that I had never said”

Com o distintindo riff abrindo a canção, “Athen’s, France”, somos apresentados ao relacionamento, que pelas letras sobre uma garota rica, muitas das inseguranças do narrador são explicitadas assim, de suas palavras que poder ter outra interpretação às notícias vindas do telefone. Quanto ao instrumental sempre não-linear, e surpreendendo o ouvinte com novas melodias, esta sempre segue os sentimentos do narrador, e no meio ao final desceve bem o sentimento depressido vindo de tantos sentimentos adversos.

3 Science Fair// “I met her accidentally/It was at the Cambridge Science Fair
And she was so impressed I could make so many things catch on fire”

Uma das faixas mais introspectivas da banda, o single “Science Fair” ganhou clipe e foi o primeiro de For The First Time. Com uma percussão distinta e um sintizador que crescem e respaldam sentimentos do narrador. Já nas letras, é descrito como um encontro desastroso em uma feira de ciências impactou o narrador entre outros relacionamentos. Com ótimas descrições e ótima interpretação do vocalista Isaac Wood, dá pra sentir a pressão da ansiedade na canção.

4 Sunglasses// “I am invincible in these sunglasses/ I’m modern Scott Walker
I’m a surprisingly smooth talker/And I am invincible in these sunglasses”

A faixa que impulsionou a fama do grupo de Cambridge ganhou uma versão de quase 10 minutos no álbum, com uma introdução de guitarras de quase um minuto e meio para logo depois vir o conhecido riff de “Sunglasses”. Assim como “Athen’s, France” algumas das letras icônicas foram mudadas da versão original, porém ainda permanecem a crítica ao estilode vida e mentalidade da família da namorada rica. O instrumental mais refinado nesta versão de estúdio continua empolgante, acompanhando os sentimentos do narrador, dando tons tensos nos pensamentos e mais vivos quando o narrador coloca os óculos. Indispensável ouvir “Sunglasses” como uma narrativa.

5 Track X// “Dancing to Jerskin, I got down on my knees/I told you I loved you in front of black midi/I told my friend Jack that “it could’ve been you!” I know it was funny, but I was struggling too”

O mais novo single de For The First Time, com uma melodia mais delicada o ótimos detalhes do saxofone e do violino, bem reminiscente de algumas melodias dos americanos do San Fermin. Quanto às letras, mais uma vez cheia de descrições sobre pensamentos e memórias, cheio de carga sentimental. Uma das faixas mais simples dentro da complexidade instrumental da banda, mas bem bonita.

6 Opus// “All those mistakes/Laid out plainly/Anyone could see!/That the clamp was breaking me!”

Abrindo com um instrumental intenso com um pouco de influências dos ritmos do Leste Europeu. Logo as letras refletindo as memórias do relacionamento e com a certeza de que todo começo tem um fim. Mais uma vez o instrumental acompanha as mensagens da letra, dando momentos de introspecção e catarse com ótimas melodias. O título “Opus” já é uma deixa de fechamento do álbum.

Uma das características mais legais que Black Country New Road oferece é exatamente esta variedade de melodias, que a banda diz vir das influências do Jazz. No entanto, muito destas volatividades no instrumental tem como propósito de também ajudar na narrativa do álbum, ilustrando para o ouvinte também as alegrias, decepções e momentos depressivos do narrador. Trazendo sons que flertam com outros ritmos e com uma versatilidade sensacional em transitar para uma atmosfera mais introspectiva para um som mais dançante- somente pelo fator das melodias da banda já era o suficiente para prender e conquistar o ouvinte.

No entanto, as letras da banda, assinadas pelo vocalista Isaac Wood, são simplesmente geniais. Com um ótimo olho para descrever os detalhes, junto com menções à cultura pop. Em For The First Time a narrativa central é de um romance: onde o casal se encontrou e principalmente a posição social e a família da garota são descritas em alguns detalhes ora hilários, ora com preocupação e ansiedade pelo narrador que se sente deslocado, mas ainda acha que a garota seja o amor de sua vida. A performance cheia de emoção e catarse de Isaac também memoriza as letras, dando mais um toque especial para as canções.

Embora For The First Time seja um bom álbum de estreia, além de apresentar bem a banda para o público, o álbum pode desapontar um pouco pelas mudanças nas canções conhecidas pra quem já as conhecia anteriormente. Reescritas tanto nas melodias quanto nas letras, tirando os palavrões e algumas narrativas e referências (sentimos falta do name-dropping de “thank u, next” em Athen’s, France) as canções ainda brilham, mas faltam um pouco da intensidade e irreverência das originais. Mesmo assim, For The First Time inspira, como alguns albuns de estreia em meados dos anos 2000, e mal esperamos para ouvir mais deste instrumental experimental, assim como as narrativas desta banda.